COMPANHIA DO SORRISO

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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Fichamento 9

Aspectos culturais na compreensão da periodontite crônica: um estudo qualitativo

Sharmênia de Araújo Soares NutoI; Marilyn Kay NationsI, II; Íris do Céu Clara CostaIII
IUniversidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil
IIHarvard Medical School, Boston, U.S.A
IIIUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil
Cad. Saúde Pública vol.23 no.3 Rio de Janeiro Mar. 2007

“Muitos estudiosos da área da Antropologia Médica têm pesquisado as dificuldades de comunicação clínica entre profissionais de saúde e pacientes.”

“Isso ocorre porque os modelos médicos são respaldados pela ciência moderna, por meio de pesquisas, e os modelos populares são idiossincrásicos, mutáveis e fortemente influenciados pela personalidade e por fatores culturais”

“No primeiro momento, é realizada a apresentação da doença pelo paciente, de forma verbal ou não-verbal, a qual inclui as dimensões psicológicas, morais, sociais e espirituais. Em seguida, o profissional, de acordo com o conhecimento científico, faz a tradução do quadro apresentado pelo paciente em sinais fisiologicamente e patologicamente quantificáveis para que eles adquiriram significados de doença.”

“Para colaborar na compreensão dos modelos explicativos em Odontologia, este estudo foi realizado utilizando-se a análise das concepções, das crenças e das atitudes dos pacientes portadores de periodontite crônica.”

“Em meio a uma má escovação e outra, o discurso popular relaciona a periodontite crônica à falta de condições sócio-econômicas para acesso às informações e aos serviços odontológicos de qualidade em periodontia. Conseguem fugir do discurso hegemônico de má escovação e ampliar a explicação do processo saúde-doença para além de bocas, gengivas e bactérias, para incluir as condições de vida e o acesso aos serviços especializados, diferenciando, inclusive, o tratamento de periodontia como de melhor qualidade do que a simples "limpeza" realizada nos postos de saúde.”

“Os microorganismos são explicados, não como uma infecção na cavidade bucal por patogênicos específicos, que atuam no desenvolvimento de toda doença, mas como uma atuação específica na mobilidade dentária, sendo este o sinal clínico de maior preocupação e gerador de procura por um tratamento periodontal. Ou seja, a procura pelo serviço odontológico é acelerada pelo terror ocasionado pela mobilidade.”

“Por possuírem uma longa história com a periodontite crônica, foi fácil a descrição dos sintomas mais presentes: sangramento, dentes moles, tártaro, gengiva inflamada, mau hálito, dente sensível e retração gengival. E o sangramento gengival, apesar de ser identificado como um dos sintomas mais presentes na periodontite crônica, muitas vezes não gera por si a procura pelo tratamento periodontal.”

“A compreensão dos pacientes entrevistados é resultante de muitos anos de convivência com a etnoenfermidade "piorréia" e do agravamento dos seus sinais clínicos, vivenciados ao longo da vida e enraizada na cultura popular local.”

“A odontologia científica avançou no conhecimento técnico-científico, mas a comunicação com o saber popular deixa muito a desejar, permanecendo os cirurgiões-dentistas presos ao modelo antropocêntrico, em detrimento de uma visão sistêmica da realidade.”

“Durante a confrontação do modelo popular com biomédico odontológico sobre a periodontite crônica, foi identificada a pluralidade e múltiplas explicações do saber empírico em relação às explicações singulares do conhecimento científico e técnico.”

“Enquanto para a Odontologia a maioria das periodontites são inflamações crônicas e progressivas, caracterizadas clinicamente por perda óssea, bolsas periodontais e inflamação gengival e possuem como etiologia primária a presença de bactérias específicas residentes no biofilme dentário, associada a uma deficiência no mecanismo de defesa do paciente; para a população é "problema de gengiva" ou "piorréia" 20, causados por descuido, má escovação, falta de condições sócio-econômicas para acesso aos serviços de qualidade, doces e alimentação em geral e a presença de "germes" durante a mobilidade dentária.”

Se faz necessário “a aproximação dos conceitos culturais e da linguagem popular em saúde, adquiridos a partir de pesquisas da área de Antropologia Médica, não garante por si, uma mudança na prática pedagógica. É preciso a superação do fosso cultural entre as instituições de saúde e a população, a compreensão da diversidade e da heterogeneidade da realidade social e da complexidade e singularidade da subjetividade humana, por meio do desenvolvimento da autonomia e da capacidade de superação das pessoas no enfrentamento das situações de saúde-doença, tanto em nível individual quanto coletivo.”

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